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Crítica literária

por Marcos Bila, em 09.11.16

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Termo designativo dos textos que se preocupam em discutir o discurso literário ou opinião valorativa sobre as obras literárias. Costuma-se atribuir à crítica o papel de avaliar ou apreciar os textos considerados dignos de serem lidos, bem como seus impactos e efeitos sobre o leitor. Caberia à crítica literária, na opinião de Antoine Compagnon, em O demônio da teoria, acentuar a experiência da leitura, isto é, descrever, interpretar, avaliar, julgar, proceder “por simpatia (ou antipatia), por identificação ou projeção: seu lugar é o salão, do qual a imprensa é a metamorfose, não a universidade; sua primeira forma é a conversação”. Sabe-se que Graciliano Ramos, além de romancista, cronista, contista, dentre outras competências como escritor, foi um crítico literário (inclusive dele mesmo) reconhecidamente exigente, no que tange o discurso ficcional. Em Memórias do cárcere, ele nos diz que: “certos escritores se desculpam de não haverem forjado coisas excelentes por falta de liberdade – talvez ingênuo recurso de justificar inépcia ou preguiça. Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a delegacia de ordem política e social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer”. Nesse sentido, é preciso discutir a opinião corrente de bom ou ruim, o que é considerado pela crítica como objeto literário de valor ou não. Assim, o interesse pela noção de “bom gosto” da obra literária está sempre balizada por uma comunidade interpretativa legitimada pelas afirmações da própria crítica, a saber, uma comunidade ao mesmo tempo canonizada e canonizante. A crítica é, assim, circundada por esquemas ideológicos e efeitos de sentido que não são naturais do objeto que ela estuda e avalia, mas pelas convenções sociais, de grupo ou grupos de interesses. A tarefa do crítico é sempre agir dentro de um campo cultural específico, visando a desconstruí-lo, transformá-lo ou mesmo ratificá-lo. (Por: Erick da Silva Bernardes).

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O olhar sobre a outra procura, inconscientemente, referências do seu mundo para uma mais profunda identificação e até melhor proveito por parte do leitor. Ou haverá uma certa necessidade de encontrar no espaço estrangeiro marcas do próprio espaço do autor? Tal espaço não há se não uma grande visão geopolítica e maior habilidade diplomática, esses sim são as marcas e valores que os viajantes tinham como principais armas para menosprezar e ridicularizar o outro nos seus escritos. Cabral, com destino à Índia, e no caminho avistou a terra de Vera Crus, assim, começa o processo de achamento de Brasil e, com efeito, a narrativa de Pero Vás de caminha e outros cronistas quinhentistas, que descreveram aquelas terras e suas gentes “Aí, nessa terra de grande beleza e muitas riquezas, contactou a expedição com um povo simpático e acolhedor, mas vivendo num estado civilizacional bastante atrasado” o atraso civilizacional a que se faz alusão é feita em função dos valores ocidentais: “Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinais que pousassem os arcos. E eles os pousaram.” Para os portugueses, aquele local, não passava de fonte de riqueza, e o facto de eles terem sido compreensíveis perante eles, a simpatia, a hospitalidade, fez com que aquela gente metropolitana concluísse que eles eram incivilizados e disso, futuramente, tiraram proveito. Ainda na carta de achamento de Brasil: “Trazia este velho o beiço tão furado, que lhe caberia pelo furo um grande dedo polegar, e metida nele uma pedra verde, ruim, que cerrava por fora esse buraco. O Capitão lha fez tirar. E ele não sei que diabo falava e ia com ela direito ao Capitão, para lha meter na boca.” PVC Como podemos ver, nessa obra, o outro aparece como sendo um animal que pode ser domesticado, apesar de ter-se mostrado muito hospitaleiro com o estrangeiro. Essas viagens que buscavam relacoes com outros povos sempre resultam na dominacao do outro considerado nao civilizado, pelo viajante. O mesmo acontece na obra Moby Dick Narrado por Ismael: “Se a primeira visão de um indivíduo tão bizarro como Queequeg circulando no meio de uma sociedade civilizada me tinha deixado estupefacto, a minha estupefacção aumentou quando, em pleno dia, fiz a minha primeira surtida nas rua de New Bedford”. Tanto nesta, como na narrativa de pêro Vaz, há uma ideia de se menosprezar o outro em função do nível civilizacional que estes têm, Queequeb é nome dum personagem de raça negra que durante a viagem à caça da baleia branca vai ser o seu parceiro, para além de outros tripulantes, mas este personagem, em particular, vai ser aquele que o narrador/personagem Ismael vai descrever detalhadamente por causa dos seus hábitos e costumes que são muito diferentes dos dele: “Sentei-me a observa-lo com grande interesse. Embora fosse um selvagem tatuado e de rosto hediondo, havia no seu comportamento qualquer coisa de simpático. A alma não se pode ocultar. Parecia-me desvendar, através das medonhas tatuagens, os vestígios de um coração simples e honestos, e nos seus olhos largos e profundos de um negro ousado e fogoso, pareciam flutuar as promessas de um espírito capaz de enfrentar um milagre de demónios” Temos aqui mais uma evidência de como estes dois viajantes que, apesar de estarem embarcados no mesmo navio, pertencem a povos distintos e, Ismael, estando na privilegiada posição daquele que narra, vai nos dar o seu ponto de vista, a sua perspectiva desse outro. É curioso que tal como em pêro Vaz temos a simpatia desses dois povos. Eis um dos valores do Ismael que em função deles vai influenciar o seu olhar sobre o outro e os valores influenciando a observação “Eu era um bom cristão; nascido e educado no ceio da infalível igreja presbiteriana. Como poderia unir-me àquele idólatra selvagem na adoração de um manipanso de madeira?” M. D. assim sendo, eis a imagem do outro: “Queequeg era um nativo de Rokovoko, uma ilha muito remota do sudoeste que, como todas as ilhas autênticas, não se encontra assinalada em nenhum mapa.” Fazendo o cruzamento directo entre essas duas obras podemos perceber que ja como foi dito, o dominador é sempre aquele que se acha superior e com uma civilizacao diferente do outro com quem mantem o contacto No caso de Ngamula, temos um caso diferente, primeiro porque trata-se dum narrador na terceira pessoa que descreve a partir do olhar do personagem, “os olhos forasteiros do Nghamula a sede da vila de Maxixe era um lugar aprazível, arejado e com paisagens como nunca vira. A proximidade do mar, mesmo de se lhe pegar à mão, o ondular daquelas barcaças frágeis a sulcar as águas da baia atraiam a sua atenção e fascinação (…) decifrou nos semblantes carregados dos transeuntes a angústia e os sobressaltos causados pela guerra; (…) preso de espanto, por ali demorou-se a testemunhar o que parecia ser um dos maiores absurdos que já presenciara. Magalas de braços musculosos e corpos vigorosos transportavam às costas senhoras e cavalheiros a troca de umas moedas.” Nghamula O primeiro contacto com o outro que Nghamula teve foi com a paisagem da vila de Maxixe que o encantou como nunca havia se encantado, já o segundo está precisamente ligado à força brutal que os homens da vila tinham, visível quando esses carregavam os seus clientes nas costas em troca de dinheiro. Ele em toda a sua vida nunca havia presenciado tal absurdo, daí que olha para os “ Magalas” como o outro. O contacto com o outro em Nghamula, está também presente durante a sua formação como militar, quando levado pela raiva de ver um seu companheiro a ser maltratado pelos comandantes estrangeiros, acaba por atacar os seus superiores ate a morte. Esta relação entre soldados e comandantes estrangeiros era vista como um desafio, pois os segundos castigavam os primeiros por se acharem superiores. Essas três obras cruzadas entre si até agora nos trazem a visão que o estrangeiro tem sobre o nativo e a fúria com que se encaram. Na obra Terra Sonambula o contacto com o outro dá se quando Kindzu cruza o caminho de Surengra, um indiano comerciante com quem troca uma amizade faternal, não sendo este episódio isolado pois encontramos entre Tuahir e Muiadinga um encontro de gerações que se repete na obra A Estepe onde encontramos um grupo de quatro viajantes, formado por um padre, um comerciante, um cocheiro e um rapaz de nome Iegoruchka que a pedido da mãe segue na comitiva para poder estudar na vila onde o seu tio fazia a sua venda. A hostilidade com que encara os seus novos parentes pode ser vista como o contacto com outro, embora façam parte da mesma tradição. O outro não é visto somente como aquele que possui uma cultura diferente nestas obras mais também como um desconhecido. Em As Minas de Salomão estamos perante um narrador que, apesar de ser um residente de África, Durban, e já ter tido muitos contactos com os diferentes povos negros da região onde caçava elefantes, este quando chega na terra dos Cacuanas e ao serem apontados pelas azagaias com aqueles guerreiros: “Só quem conhece selvagens e a mobilidade daquelas imaginações infantis pode compreender como subitamente, em cada um deles, ao desejo de nos matar ia já sucedendo o impulso de nos adorar…” portanto, a experiencia que este narrador/personagem, vai facilitar lhes a estadia naquelas terras alheias e, aproveitar da ingenuidade daquelas gentes para saquearem as pedras que reluzem, e, à moda das crónicas quinhentistas, não faltou a descrição, pormenorizado do que vê e lhe chama atenção: “Alguns deles traziam aos ombros peles de leopardo, e na cabeça umas coroas de altas penas, negras, direitas, que ondulavam na brisa. Em frente do bando, um rapaz de uns dezassete anos conservava ainda o braço erguido e o corpo inclinado, na atitude graciosa de uma estátua que eu vira no cabo, um efebo grego que lança um dardo.” Nas terras dos Cacuanas, destino que os viajantes rumavam, tinha uma velha senhora que, em lugar de feiticeira. “E sem mais, a hedionda criatura mergulhou no corredor tenebroso, erguendo ao alto a pálida lâmpada” essa forma de olhar o outro não é, de algum modo, bela nem amigável, a mulher de que se trata era a única conselheira do rei. A presenca de um personagem/narrador que ja teve varios contactos com outros povos faz essa obra ganhar um tom diferente das outras, ora vejamos, o contacto com o outro nas obras ja apresentadas acontece pela primeira vez e gerando confrontos inesperados, no caso desta última obra em análise, ate agora, acontece o contrário. Ismael conhece muito bem os outros povos, sem com isso deixar de os considerar como primitivos e animais ferozes e deixar de se aproveitar da ingenuidade deles.

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